Algo me incomoda profundamente, confesso-lhes. O papel do educador na escola fundamental, média ou no magistério. Tão belo é o significado do termo pedagogia, que advém do grego. É a reunião das expressões “paidós” (criança) e “agogé”(condução). Ou seja, o educador é aquele que pega pela mão e conduz. “Educar é construir, é libertar o homem do determinismo, passando a reconhecer o papel da História e onde a questão da identidade cultural, tanto em sua dimensão individual, como em relação à classe dos educandos, é essencial à prática pedagógica proposta. Sem respeitar essa identidade, sem autonomia, sem levar em conta as experiências vividas pelos educandos antes de chegar à escola, o processo será inoperante, somente meras palavras despidas de significação real. A educação é ideológica, mas dialogante, pois só assim pode se estabelecer a verdadeira comunicação da aprendizagem entre seres constituídos de almas, desejos e sentimentos”. Certa vez disse o mestre Paulo Freire, que, penso eu, um dos poucos que realmente poderia ser chamado de mestre. Não pelo seu grau de estudo, mas pela sua inabalável capacidade de expressão e amorosidade com o próximo que não era mais um número.

Ora, o que vejo no ensino do direito nada passa de um excesso de rigor que só leva a um profundo desgosto e frustração no processo de aprendizado, que se torna maçante ou, às vezes, insuportável, onde o professor exige do aluno uma dedicação extraordinária e um desgaste desnecessário, e o resultado final nunca é mais acúmulo de informação, mas sim desespero. Somos aprisionados, quando na verdade o processo de aprendizado deveria ser libertador. Somos educados a aprender que não temos nada para oferecer para a escola, essa última, que, portanto se dedica ao “ensino do medo”. Estamos na era do medo, e a Universidade se reduz à uma gaiola e que nos propõe que viremos galinhas acostumadas com os limites do galinheiro, quando na verdade poderíamos ser águias com os limites dos céus e do horizonte. O Ser - humano no ensino do direito é um objeto dentro de uma normatividade simplesmente, e assim seguem os estudantes da lei sem estudar ou saber para que mesmo ela serve. Estudam periódicos normativos que a cada ano são publicados aos montes nos códigos jurídicos. Sabem muito, mas não sabem para que serve o muito. E se esse muito é bom. A educação universitária monologa a velha ladainha se sua própria liturgia e nos deixa bem claro que ideologia é um negro véu que a juventude nos impõe, nada que o tempo não cure. Os chamados mestres estufam o peito bem alto na competição de títulos acadêmicos e quantum de alunos reprovados. Me parece que em termo desses, velhos valem 3 créditos e gestantes 4. No ensino do medo, a Universidade com atestado de qualidade implícito é aquela que reprova internamente para aprovar externamente. A lógica se dá da seguinte forma: Reprovando internamente se capta recursos, captando recursos, capta-se também alunos para que possam se exaurir pela Universidade, e não por eles. Pois o maior interessado que esses sejam aprovados externamente, seja no exame de ordem ou em outro qualquer é a própria Universidade, pois números de aprovações lhe rendem títulos de qualidade e dinheiro. A qualidade do ensino jurídico se reduz a índices estatísticos da OAB. O resultado é que no início do segundo milênio, a injustiça é fonte do direito que a perpetua e além disso é passivamente vista de longe nas academias. A distância entre o direito e a justiça na prática é tão feito de milhas e mais milhas como a distância entre alunos e professores. Educar é coisa do passado, o mercado oferece professores aos milhares, mas os educadores estão tolhidos do seu exercício em becos escuros ou marginalizados pela “subversão”, conceito criado para impedir o pleno processo de aprendizado. O educando é ensinado desde logo a nada construir e a nada oferecer a sua cultura. O conhecimento advém de um processo de doação caridosa mas jamais de um processo de troca. O ensino universitário é mãe de pequenos tiranos em seus palcos de madeira e com uma lista de chamada debaixo do braço. E o ensino jurídico, especificamente, nos ensina o nosso lugar, que é diariamente sentado numa carteira desconfortável, em salas escuras e quentes, com o medo na frente e o desprezo atrás, e o mais importante, calados! Esquecemos o passado ao invés de escutá-lo de modo crítico, padecemos da realidade ao invés de vivê-la no presente, e nem nos damos o trabalho de imaginar o futuro, pois os nossos sonhos se reduziram a alforria do ensino universitário, supra sumo em aprisionar almas através de mecanismos sutis.