por Digo Decalque*


O debate entre os candidatos à prefeito ontem [20 de agosto] na PUC foi um pouco, digamos, broxante. Acho que talvez eu estava esperando um pouco mais pro início de campanha dessa eleição que promete ser, no mínimo, histórica. Num auditório lotado com estudantes se abarrotando até nos corredores, os oito candidatos apresentaram poucas propostas diretas e preferiram conter os ataques aos adversários do que provocar polêmicas
maiores.

Quer dizer, oito candidatos não. O Márcio Lacerda (PSB) não foi e acabou mandando o coordenador de campanha Jorge Nahas (PT) em seu lugar. Sua ausência é até certo ponto compreensível já que a repercussão desse debate nem é tão grande assim, mas não consegui direito entender porque escolher um substituto tão sem jeito pra coisa. Nahas não estava nem um pouco inspirado, titubeava nas respostas, não soube responder direito o que fazer com o transporte e retrucava para qualquer pergunta que seria tudo muito difícil e caro. Pelo menos foi direto na questão do meio-passe estudantil – que, aliás, foi tema recorrente nas perguntas - e afirmou sob vaias da platéia que seria possível somente para estudantes de baixa renda e do ensino médio.

Gustavo Valadares (DEM) talvez foi o candidato que se saiu melhor nessa noite, e mostrou ter um bom discurso mesmo defendendo em frente a uma enorme platéia de jovens esquerdistas o compromisso do seu partido pela política do estado mínimo. Foi enfático quando questionado sobre educação e se declarou contra a Escola Plural e a favor da universalização do ensino integral na rede municipal. Mas pecou pelo excesso ao exagerar o papel do prefeito na segurança pública, visto os entraves constitucionais que não dependem dele para serem resolvidos.

O candidato do PMDB, Léo Quintão, também mostrou que, apesar do topete e da pinta de engomadinho, é carismático e intrépido quando necessário. De propostas estruturais falou pouco, mas pelo menos nos proporcionou o maior barraco do debate quando perdeu as estribeiras com o excesso de vaias que recebia da platéia e esbravejou em pé pedindo respeito à democracia. Seus brados coléricos eram o exato oposto da voz serena e pausada de Sérgio Miranda (PDT) que, parecendo não estar muito inspirado, preferiu ficar repetindo as perguntas, reiterando os problemas e dando respostas vagas ao invés de apresentar soluções concretas.

Quem também não falou muita coisa de interessante foi Jô Moraes (PCdoB). No meio de intermináveis rodeios e frases genéricas do tipo "vou melhorar a saúde, a educação e blábláblá", pelo menos foi direta ao afirmar que irá defender a utilização de recursos do Fundo Municipal de Transporte para subsidiar o meio passe estudantil, o que relembra a política do governo Lula de investir no social mas sem assustar os grandes empresários. A única menção a Márcio Lacerda – seu adversário a ser batido - foi feita nas suas considerações finais, quando citou a diferença de dinheiro e tempo de propaganda eleitoral entre as campanhas. "Minha TV são vocês", clamou em alta voz.

Concluindo, parece que a presença de todos os candidatos e não só dos mais importantes atrapalhou uma boa discussão de idéias. É óbvio que ter todo mundo na mesma mesa é legal e democrático, mas isso acaba impedindo um aprofundamento maior nas ideologias e propostas de quem realmente vai competir pelo troninho do Pimentel. O modo de organização do debate também prejudicou essa falta de direcionamento, e as perguntas meio nada a ver e bastante genéricas dos alunos e a falta de ousadia dos jornalistas fizeram com que alguns temas importantes acabassem solenemente ignorados, como a questão da aliança PT/PSDB e da relação entre cada candidato e a Câmara Municipal.

Por isso, quem quer ver um debate de verdade ainda vai ter que esperar
um pouco mais. E esperemos.


*Digo Decalque, nome-fanstasia de Rodrigo Burgarelli, é estudante de Comunicação Social pela UFMG, e colaborou gentilmente para este blog. Já que estes blogueiros não puderam aparecer no debate, Digo apareceu lá e nos ofertou esse texto. Valeu, aí, meu velho!


Só uma obs.: O Jorge Nahas, citado acima, tem alguma ligação com o Naji Nahas?


Para ver o perfil dos outros candidatos, clique aqui e vá ao site do TSE.