As recentes notícias referentes a um suposto terrorismo eleitoral praticado pelo atual governo federal - em referência a possíveis modificações no Programa Bolsa Família - constituem-se uma verdadeira afronta à inteligência do eleitorado brasileiro. De fato, a Instrução Operacional n.º 34 da Secretaria Nacional de Renda e Cidadania do MDS, publicada em 23 de dezembro do último ano, traz de forma explicita a possibilidade de alterações na validade dos benefícios, estando estas a cargo da nova administração que conduzirá o programa a partir de 2011. O fato é que em nenhum momento a Instrução faz referência a alterações nas diretrizes marcantes do programa, como querem nos convencer alguns jornalistas, já que a eficácia do ato se limita a aspectos operacionais do programa.

A partir da publicação deste ato, o jornalista Fernando Rodrigues puxou, em seu blog, a corrente dos jornalistas "sagazes" que conseguem enxergar supostas geniais jogadas do xadrez político em meio a qualquer ato da administração pública. Sobre a medida supramencionada, o jornalista assevera: "A mensagem subliminar é simples: se o próximo presidente quiser, muda o Bolsa Família. Ou seja, só o governo atual (e sua candidata ao Planalto) podem garantir a manutenção dos pagamentos". No mesmo sentido, Noblat se manifesta de forma semelhante, ao afirmar que "diante das características das eleições presidenciais deste ano, a menção nada sutil a uma redução da validade do benefício, a depender de decisão do próximo presidente, não é falta de cuidado no estilo — tem mesmo é objetivo eleitoral explícito. Leia-se: vote em Dilma Rousseff e garanta seu dinheiro". 

Em ano de eleições presidenciais, o jogo psicológico é sim uma arma utilizada por candidatos de situação que tentam sensibilizar os eleitores sugerindo piora de cenário com a escolha de um candidato de oposição. Isto não se pode negar. Exemplos recentes na história do país não faltam como no bizarro episódio protagonizado pela atriz Regina Duarte (ver vídeo), que não obteve êxito ao tentar emprestar seu prestígio e credibilidade ao tucano José Serra, depreciando a imagem do então candidato Lula - que quando eleito não desestabilizou a economia, não sacou seus bens e nem mesmo comeu as criancinhas brasileiras. No outro pólo do jogo político, ameaças semelhantes ocorreram quatro anos depois, nas quais a campanha para a reeleição do presidente sugeria que Alckimin e o PSDB pretendiam privatizar a Petrobrás e o BB - algo que parecia não mais fazer sentido naquele período. Podemos lembrar ainda de outras situações de campanhas extremamente agressivas onde nenhum dos candidatos contava com o aparato governamental. Em 1989, Collor apelou para aspectos pessoais de Lula ao perceber que a "ameaça comunista" não sensibilizava a massa do eleitorado brasileiro.

 

2010 será um ano de pedradas para todos os lados. Preparem-se, pois os candidatos ofertarão promessas e venderão ameaças que muitos vezes não tem nenhum sentido. E mais do que evidenciar intenções veladas dos candidatos, é necessário decifrar o subtexto e as intenções dos cronistas e jornalistas, sobretudos dentre os supostos “neutros” da grande mídia, cujo noticiário esconde sugestões suspeitas.